
05.07.25 | Segurança em RM | Matheus Telka Gonçalves | Tempo de leitura aproximado:
Curativos contendo prata metálica: pode na RM?
Você já ouviu falar nos curativos contendo prata metálica?
Neste atigo, compartilho um tema bem interessante para a segurança em Ressonância Magnética (RM): a presença de curativos contendo prata em pacientes que precisam realizar o exame.
- Será que eles representam um risco?
- Quais cuidados devemos ter?
- Será que sempre devemos remover?
Abaixo, veremos o que a literatura nos diz e quais seriam as recomendações atuais para esclarecer essa dúvida comum.
Acompanhe abaixo:
Figura 1. Exemplo de um curativo com prata na composição. Fonte: Google Imagens e Coloplast.
Curativos contendo prata na composição são dispositivos terapêuticos utilizados principalmente para o tratamento de feridas com risco elevado de infecção. A prata, na forma iônica (Ag⁺), possui reconhecida ação antimicrobiana, atuando contra uma ampla variedade de bactérias, fungos e vírus. Esses curativos são fabricados em diversas formas — como espumas, hidrofibras e alginatos — e liberam íons de prata de forma controlada na ferida, promovendo um ambiente mais estéril e favorável à cicatrização.
Comparados aos curativos tradicionais, os curativos com prata oferecem uma barreira antimicrobiana ativa, enquanto os comuns atuam apenas como proteção física ou controle de umidade. Isso os torna especialmente úteis em feridas crônicas, úlceras diabéticas, lesões por pressão, queimaduras e feridas cirúrgicas infectadas ou com alto risco de contaminação. Além de reduzir a carga microbiana, eles podem diminuir o odor da ferida, reduzir a frequência de trocas e, em alguns casos, promover menor dor durante o processo de cicatrização.
O tempo de permanência desses curativos varia conforme o tipo de ferida, grau de exsudato e o produto utilizado, mas geralmente podem permanecer entre 3 a 7 dias. Essa durabilidade ajuda a minimizar a manipulação da ferida e favorece um ambiente de cicatrização mais estável. No entanto, seu uso deve ser criterioso, pois o excesso de prata pode causar citotoxicidade e retardar a regeneração celular, sendo recomendada a avaliação contínua por profissionais da saúde quanto à indicação e tempo de uso.
Figura 2. Exemplo de curativos e testes de segurança e de artefatos realizados. Fonte: Shellock et al (2012) e Bailey (2018) et al.
Historicamente, a presença de qualquer material metálico próximo ao ambiente de RM gera preocupações. Com os curativos de prata não é diferente.
Os principais receios são:
1. Aquecimento pela Radiofrequência (RF): A energia da RF usada na RM poderia aquecer o componente de prata, causando queimaduras na pele do paciente;
2. Artefatos na Imagem: A prata poderia distorcer o campo magnético localmente, gerando artefatos que comprometem a qualidade do diagnóstico;
3. Forças de Translação/Torque: Embora menos provável com a quantidade de prata em curativos, a interação com o campo magnético estático e gradientes espaciais poderia, teoricamente, gerar forças.
Mas esses receios se confirmam na prática com os curativos modernos?
O que diz a literatura?
Fui atrás de diversos estudos que investigaram a segurança de curativos com prata em ambientes de RM de 1.5T e 3T. A boa notícia é que a maioria das pesquisas, como as de Bailey et al. (2018) e Nyenhuis et al. (2009), concluiu que muitos curativos modernos, especialmente aqueles que utilizam prata iônica (e não metálica particulada em grande quantidade), não apresentam riscos significativos de aquecimento ou artefatos que impeçam o exame.
Estudos in vitro e revisões sistemáticas recentes (Metcalfe et al., 2024) reforçam que muitos desses curativos são considerados Condicionais para RM ou até Seguros para RM sob condições específicas.
⚠️ Atenção aos Detalhes!
Apesar dos resultados positivos, NÃO podemos generalizar para TODOS os curativos com prata.
É FUNDAMENTAL:
1. Verificar a Especificação: Consultar as informações do fabricante do curativo sobre a compatibilidade com RM;
2. Consultar Bases de Dados: Verificar recursos confiáveis como o site MRIsafety.com (Shellock) para informações sobre dispositivos específicos;
3. Avaliar a Localização: Um curativo diretamente na área de interesse do exame ou dentro do campo de transmissão de RF pode exigir mais cautela;
4. Na Dúvida, Remover: Se a compatibilidade do curativo específico não puder ser confirmada, a remoção antes do exame é a conduta mais segura, conforme recomendado por Bailey et al. (2018) e outros especialistas;
Aqui estão algumas marcas que foram testadas nos estudos listados nesse post para conhecimento de todos. Essas marcas foram testadas para segurança em RM por pesquisadores e não revelaram riscos significativos:
No estudo de Bailey (2018):
- TRITEC® Silver,
- ULTRA Silver,
- ASSIST® Silver,
- ASSIST® Silver Absorbent;
- InterDry® Ag; Coloplast Corporation
Figura 3. Exemplos de fabricantes de curativos contendo prata analisados pelo trabalho de Bailey et at (2018).
No estudo de Escher e Shellock (2012):
- Mepilex Ag Antimicrobial Absorbent Foam Dressing with Safetac Technology, 10 cm x 10 cm
- Mepilex Border Ag Antimicrobial Bordered Foam Dressing with Safetac Technology, 10 cm x 30 cm
Figura 4. Exemplos de fabricantes de curativos contendo prata analisados pelo trabalho de Escher e Shellock (2012).
Assim, podemos concluir sobre esse tema o seguinte:
Os curativos com prata não são uma contraindicação absoluta para RM, mas exigem avaliação cuidadosa e individualizada. A informação do fabricante e a consulta a fontes confiáveis são essenciais.
Referências:
[1] Bailey, J. K., Sammet, S., Knopp, M. V., Abdel-Rasoul, M., & Nogan, S. J. (2018). MRI compatibility of silver based wound dressings. Burns, 44(8), 2142-2147. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305417918304200
[2] Revisão Sistemática (Wiley): Metcalfe, L., et al. (2024). Systematic review of MRI safety literature in relation to radiotherapy planning workflow. Journal of Medical Radiation Sciences. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jmrs.800
[3] Avaliação In Vitro 3T: Escher, K. B., Myers, K. J., Marks, M. P., & Shellock, F. G. (2012). An In Vitro Assessment of MRI Issues at 3-Tesla for Two Silver-Containing Wound Dressings. Journal of the American College of Radiology.
http://www.imrser.org/PDF/2012.Escher.Shellock.Wound.pdf
[4] Avaliação Segurança (JACR): Nyenhuis, J. A., Duan, S. L., & Bassen, H. I. (2009). An Evaluation of MRI Safety and Compatibility of a Silver-Impregnated Wound Dressing. Journal of the American College of Radiology, 6(7), 487-493. https://www.jacr.org/article/S1546-1440(09)00117-3/abstract
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